Queimadas ampliam gases de efeito estufa

   Queimadas ampliam gases de efeito estufa

28 April 2009

published by www.kaxi.com.br


Brazil — Além de destruir os ecossistemas de maiores biodiversidades do planeta, as queimadas da Amazônia contribuem anualmente com 32% das queimadas ocorridas nas florestas de todo o mundo, que respondem por 19% dos gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento do planeta.

Os percentuais de influência das queimadas para o efeito estufa global foram descobertos em estudo publicado na revista científica Sciense, onde os cientistas confessam que não sabiam que o fogo tinha tanta importância assim para a poluição do planeta.

Segundo o estudo, deixar de queimar propositalmente as florestas tropicais, savanas e áreas agrícolas, como os canaviais, pode baixar a contribuição da humanidade ao aquecimento global em 19%.

Falando para a imprensa, o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP) conta que, no estudo, feito com o auxílio de modelos computacionais, entraram gás carbônico, metano e óxido nitroso, que são gases emitidos pela queima de biomassa que ajudam a aprisionar na atmosfera o calor irradiado pela Terra.

Segundo o registro via satélite anual das queimadas propositais, Brasil, Malásia e Indonésia são os países que mais precisam avançar em políticas públicas que controlem o fogo deliberado. “É a forma mais barata e mais rápida para controlar o aquecimento global”, assinala o cientista da USP.

Os estudos dos cientistas indicam onde se encontram as fontes de queimadas que mais bombeiam gases de efeito estufa. Entre 1997 e 2006, os trópicos asiáticos contribuíram com 54% das emissões, os trópicos americanos, principalmente da Amazônia, produziram 32% e a África fechou a conta, com a contribuição de 14%.

Os cientistas assinalam que é na Amazônia brasileira, mais especificamente em Mato Grosso, que se encontra a maior intensidade de focos de calor do planeta. Um estudo americano publicado em 2006 indicou que, entre 2000 e 2005, Mato Grosso tinha duas vezes mais queimadas que qualquer outra região.

O físico da USP assinala que o agravante é que a redução das queimadas na Amazônia, por exemplo, não vai melhorar a temperatura do planeta de forma direta, logo no ano seguinte. A escala de tempo é de décadas. “O carbono que vai para a atmosfera hoje vai sendo acumulado”, lembra o cientista Paulo Artaxo.

Fogo é componente significativo para mudanças climáticas

O fato de o fogo ser um componente “bastante significativo” para as mudanças climáticas globais não tem implicação apenas para as futuras gerações. Sendo o planeta um ambiente altamente inflamável, por causa da quantidade de carbono que existe nele, algumas alterações já ocorrem hoje.

“As florestas úmidas não têm uma experiência histórica com o fogo na frequência com que ele está aparecendo hoje nesses ambientes”, destaca, para o jornal Folha de São Paulo, Jennifer Balch, do Centro Nacional para Análises Ecológicas e Sínteses, dos Estados Unidos, co-autora da pesquisa.

A cientista norte-americana calcula que, durante uma seca extrema, 39 mil quilômetros quadrados da Amazônia ou 15% da área do Estado de São Paulo, entraram em combustão. David Bowman, da Universidade da Tasmânia (Austrália), é outro cientista que participou do trabalho sobre o impacto das queimadas em todos os ecossistemas do globo. Para ele, a relação entre seus resultados e o mundo hoje é total.

“Os trágicos incêndios em Victoria (Austrália) enfatizam a potencial alteração nos regimes de fogo, que ocorre em paralelo com as mudanças climáticas antropogênicas”, assinala o cientista, ao lembrar que, em fevereiro, no estado australiano, mais de cem pessoas morreram por causa dos incêndios. Setecentas casas foram destruídas.

O fogo, que está cada vez mais presente por causa das mudanças climáticas, costuma causar grandes prejuízos. No fenômeno El Niño, de 1997-1998, na Ásia tropical, as estimativas mostram uma conta de US$ 9 bilhões. Na América Latina, mais seca e por isso mais inflamável, os débitos ficaram em US$ 12,5 bilhões – pouco menos que os US$ 13,4 bilhões dados pelo governo americano para socorrer a General Motors. Diante das mortes, das secas e do aquecimento global em pleno curso, os cientistas esperam que os países tropicais passem a considerar mais corretamente o peso das queimadas.


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