Pesquisadores alertam que Acre poderá sofrer desastre ambiental

Pesquisadores alertam que Acre poderá sofrer desastre ambiental

14 May 2006

published by altino.blogspot.com


Acre, Brasil — Pesquisadores ambientais do Acre temem um iminente desastre ambiental na região leste do estado, onde aproximadamente 200 mil hectares de florestas nativas — sub-bosques e copas — foram incendiados no ano passado. Em conseqüência disso, estima-se entre 280 mil e 300 mil hectares o total de áreas abertas. Em apenas um ano, o fogo dizimou 4,5% da extensão do estado.

“Precisamos fazer o grito soar mais alto”, disse à KaxiANA, por e-mail, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Evandro Ferreira. Motivados por extensas áreas de florestas nativas afetadas pelas queimadas, em outubro de 2005 monitores de imagens de satélite do Inpa no estado formaram o Grupo de Trabalho e Pesquisa (GTP), que resultou em algo inédito na Amazônia: a criação de um fórum virtual na internet.

O GTP é constituído por representantes de órgãos do governo, ONGs e pesquisadores independentes. Dele, resultam indicadores de uma situação pouco animadora: 1) nas áreas de florestas afetadas, o perigo do fogo é redobrado; 2) no próximo verão, dentro de dois meses, por causa da copa afetada essas florestas estarão mais abertas, sujeitas a mais luz, vento, e menos umidade interior; 3) as folhas caíram, formando uma grossa camada de liteira no solo. “O perigo de fogo agora poderá ser bem maior. É quase certo que, se o fogo de uma derrubada, roçada ou pasto atingir essas áreas, destruirá o restante”, adverte Ferreira.

Florestas impactadas ou danificadas estão mais propícias a queimar novamente, porque têm mais matéria morta e menos sombra. O fenômeno é observado em outras regiões da Amazônia, explica o pesquisador Irving Foster Brown, do Setor de Estudos da Terra e Mudanças Globais da Universidade Federal do Acre (Ufac).

No caso do leste acreano, e provavelmente em Pando (Bolívia) e Madre de Dios (Peru), as florestas impactadas pelas queimadas são mais suscetíveis ao fogo. “Mais de 140 mil hectares de florestas podem queimar mais facilmente do que as florestas intactas, em muitos casos, perto de áreas agrícolas e fontes de ignição”, assinalou.

Semeadura de capim

O GPT alerta para a situação dos produtores rurais endividados nos bancos do Brasil e da Amazônia. “Eles pediram o perdão do pagamento das dívidas relativas a empreendimentos que queimaram no ano passado. Pode até ser justo. Muitos plantaram capim na floresta e irão efetivamente queimá-la para fazer pastagem. Serão duplamente beneficiados: pelo pagamento facilitado e obtenção do pasto a baixo custo, sem perigo da multa do Ibama”.

Nos sub-bosques aproveitados após as queimadas de 2005, os produtores jogaram sementes de capim que germinaram para o próximo verão. Se o fogo for incontrolável este ano, os 280 mil hectares de florestas abertas correm o risco iminente de “queimadas acidentais”, e no total equivalente a quatro vezes mais o que normalmente se derruba anualmente no Acre: 60 mil ha por ano.

Verão antecipado

Tradicionalmente, no Acre, as queimadas ocorrem com maior freqüência entre os meses de agosto e setembro, época mais seca do ano. Em 2005, o período de estiagem foi mais severo no conhecido “verão amazônico”, e as queimadas começaram mais cedo, no início de julho, aponta o relatório feito pelo professor Irving Brown, com a participação da pesquisadora Sumaia Saldanha de Vasconcelos, do Inpa, Mônica Julissa de los Rios Maldonado, da Ufac, e Nara Vidal Pantoja, bolsista do CNPq.

O único e maior alento esperado pelos cientistas é o cômputo do volume de chuvas nos primeiros três meses de 2006. Eles aguardam pelo menos parte da necessária reposição da água no solo. “Solo com pouca água é sinal de floresta seca”, considera o professor Irving Brown.

No leste acreano, em 2004, houve uma redução em torno de 25% no número de focos de calor, comparando-se com 2003. Em 2005, foram quatro vezes mais a quantidade de focos detectadas em 2004. Em 2003, quase 50% dos focos de calor ocorreram em Rio Branco (484), Plácido de Castro (360), Bujari (305), Porto Acre (278), e Sena Madureira (286).

Já em 2004, aproximadamente 50% dos focos estavam em Rio Branco (337), Plácido de Castro (243), Acrelândia (216), Brasiléia (268) e Xapuri (259). No ano passado, 55% dos focos estavam em Acrelândia (1.581), Plácido de Castro (1.380), Rio Branco (1.358), Senador Guiomard (1.350) e Sena Madureira (1.180).

Em três anos, foram estes os períodos de queimadas no Acre: 2003, a partir de 16 de julho, estendendo-se até 15 de outubro; 2004, de 1º de agosto a 15 de outubro; 2005, de 1º de julho a 15 de outubro. Para saber mais sobre esse tema contate o Setor de Estudos do Uso da Terra e Mudanças Globais (Setem), da Universidade Federal do Acre (Ufac).


Back

Print Friendly, PDF & Email
WP-Backgrounds Lite by InoPlugs Web Design and Juwelier Schönmann 1010 Wien